Aposentadoria, se não for Político, esqueça!

Aposentadoria vai mudar: o que fazer se não se preparou (jovem ou velho)?
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Sophia Camargo
Colaboração para o UOL, em São Paulo
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Com a proposta de reforma na Previdência, que estabelece 65 anos de idade mínima, acaba o sonho de se aposentar mais cedo, com um valor que garanta a sobrevivência.
Você, jovem ou velho, não se preparou para ter um complemento à aposentadoria oficial? Leia este texto: o UOL ouviu especialistas que dão dicas do que fazer conforme a sua idade.
Para o professor de Finanças do Insper, Ricardo Humberto Rocha, quem chegar aos 60 anos sem nenhuma reserva, terá de cortar radicalmente os gastos, reduzir o padrão de vida e procurar novas alternativas de renda, como trabalhar como professor, com consultoria, ou arranjar outros tipos de emprego.
"Depois dos 55 anos, fica muito difícil conseguir se recolocar no mercado de trabalho, a não ser que tenha uma qualificação que já permita isso", diz. "Se não juntou nada, ela terá de se reinventar."
A alternativa a trabalhar até o fim da vida é seguir a fórmula da economia: terá de economizar parte do que ganha para formar uma poupança, ainda que comece tarde. Se a pessoa gasta todo o dinheiro que recebe, terá de buscar dois caminhos: cortar despesas e/ou aumentar os ganhos.

Classe média tem risco de passar fome na velhice

O planejador financeiro Augusto Saboia, da Saboia Advisors, afirma que, para 70% da população brasileira, a atual aposentadoria garantida pelo INSS é suficiente.
"Cobre perfeitamente a necessidade das pessoas que ganham até dois salários mínimos. Quem vai ter de se preocupar com a aposentadoria é quem está na classe média, que não é rico. Essas pessoas terão de aprender a reduzir os custos para poder economizar dinheiro e não passar fome na velhice."
O educador financeiro Reinaldo Domingos, presidente da Dsop Educação financeira, afirma que o ideal é que a pessoa faça a sua autoprevidência sem contar com o INSS. "Apague o INSS da cabeça, porque não dá nem para dizer se ele vai sobreviver 30 anos e de que maneira estará. Se receber lá na frente, ótimo, terá um valor a mais". 

Veja como cortar gastos agora

Qualquer que seja a idade, o primeiro passo para começar a se programar para a aposentadoria é fazer um planejamento financeiro.
Segundo Domingos, é possível cortar de 20% a 40% dos gastos mensais fixos. "A faxina financeira deve abranger todos os gastos, desde o consumo de energia, água, telefone, gás, supermercado, feira, vestuário. Vale a pena trocar consumo não consciente pela poupança para realizar o sonho da aposentadoria", diz.
Segundo Domingos, o valor a ser acumulado é o dobro da necessidade. Se precisa de R$ 5.000, deve economizar para ter um rendimento mensal de R$ 10 mil por mês, para que retire a metade e reaplique o valor mensalmente, para que, dessa forma, o valor nunca acabe. 

Onde investir

O professor Rocha fez algumas sugestões de investimento para quem quer planejar sua aposentadoria. O ideal é separar até 20% do rendimento líquido para investir. "A pessoa pode optar por acumular tudo em reserva de dinheiro ou diversificar também em patrimônio, como a compra de imóveis ou até mesmo a sociedade em empresas", diz. As sugestões a seguir são para quem deseja aplicar o total acumulado em investimentos. Veja como dividir:

Dos 20 aos 30 anos

  • 50% em Tesouro IPCA+ com prazo de 10 anos (papéis do Tesouro atrelados à inflação que pagam uma taxa de juro prefixada mais a variação da inflação medida pelo IPCA)
  • 10% a 25% em ações (dependendo do perfil de risco). De preferência, ações de empresas sólidas que paguem bons dividendos
  • Restante em papéis de renda fixa, tais como Tesouro Selic, CDBs, fundos de investimento

Dos 30 aos 40 anos

  • 50% em Tesouro IPCA+ com prazo de 10 anos
  • De 5% a 10% em ações (dependendo do perfil de risco – moderado a arrojado)
  • De 5% a 10% em fundos imobiliários (indicado para quem tem interesse em aplicar em imóveis mas quer diminuir o risco do investimento na compra de um único imóvel)
  • Restante em papéis de renda fixa, tais como Tesouro Selic, CDBs, fundos de investimento

Dos 40 aos 50 anos

  • 25% em Tesouro IPCA+ com prazo de 10 anos
  • 5% em ações (se já estiver acostumado a investir nessa modalidade)
  • 10% a 15% em fundo imobiliário
  • Restante em papéis de renda fixa, tais como Tesouro Selic, CDBs, fundos de investimento

Dos 50 em diante

  • 80% em ativos de grande liquidez na renda fixa, tais como Tesouro Selic, CDBs, fundos de investimento
  • 10% a 20% em Tesouro IPCA+ com prazos abaixo de 10 anos
  • 10% a 20% em fundos imobiliários

O sol brilha para TODOS!

O sem-teto que dormia em chão de banheiro público e se tornou um investidor multimilionário
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Dave Gordon
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  • Chris Gardner
    Chris Gardner agora viaja o mundo dando palestras de motivação
    Chris Gardner agora viaja o mundo dando palestras de motivação
De sem-teto a milionário. A história do americano Chris Gardner virou um filme que rendeu a segunda indicação do ator Will Smith ao Oscar por "The Pursuit of Happyness" (2006) - no Brasil, "À Procura da Felicidade". Mas, mesmo depois de enriquecer de forma tão impressionante e virar um personagem conhecido mundialmente, ele largou tudo e voltou a se reinventar.
Sua saga inicial começou em San Francisco da década de 1980. Aos 27 anos, desempregado e abandonado pela mulher, ele foi morador de rua por um ano, dormindo com o filho pequeno, Chris Jr., em abrigos, bancos de praças e banheiros públicos nas estações de trem.
A vida mudou quando ele teve a chance de participar do programa de estágio da corretora de valores Dean Witter Reynolds (DWR). 
Mas a remuneração era baixa, suficiente apenas para manter Chris Jr. em uma creche enquanto ele trabalhava. Ambos chegaram, inclusive, a se alimentar em refeitórios para sem-teto.
No fim, porém, deu tudo certo. Após o estágio, Gardner foi contratado e, em 1981, obteve licença para operar oficialmente na Bolsa de Valores. Depois, conseguiu um emprego na conceituada firma Bear, Stearns & Company. Trabalhou na área de San Francisco e, em seguida, em Nova York.
Desde então, deslanchou e nunca mais parou: em 1987, tornou-se empresário independente e abriu a própria companhia, a Gardner Rich.
Aos 62 anos, Gardner tem hoje uma fortuna estimada em US$ 60 milhões (cerca de R$ 209 milhões).
Chris Gardner
A biografia de Gardner se transformou no filme de sucesso 'À Procura da Felicidade'
Somando-se a isso o fato de que ele teve uma infância muito problemática e passou um tempo na cadeia pouco antes do estágio na DWR, fica fácil compreender porque Hollywood se interessou ao saber que ele escrevia a biografia "The Pursuit of Happyness" (a grafia errada em inglês foi intencional).
Olhando para trás, Gardner diz à BBC que "não mudaria nada". "Sofri quando era criança, mas meus filhos não têm que passar por isso", afirma. "Tudo o que me aconteceu foi porque fiz as escolhas certas."

Mãe inspiradora

Nascido em Milwaukee, no Estado do Wisconsin, Gardner não chegou a conhecer o pai. Cresceu na pobreza ao lado da mãe, Bettye Jean, e de um padrasto alcoólatra e violento.
Também passou um tempo com uma família adotiva depois que a mãe, num momento de desespero, tentou matar o companheiro. Apesar das desventuras da infância, Gardner diz que ela foi uma inspiração.
"Tive uma dessas mães à moda antiga, que me dizia todos os dias: 'Filho, você pode ser ou fazer tudo o que quiser'", conta ele. "E eu acreditava totalmente nisso."
O empresário lembra que um dia, quando criança, estava vendo um jogo de basquete na TV e comentou com a mãe que aqueles jogadores podiam ganhar milhões de dólares.
"Minha mãe disse: 'Filho, um dia será você que vai ganhar um milhão de dólares'. Até ela dizer isso, a ideia nunca tinha me passado pela cabeça."

Encontro casual

Os milhões de dólares não vieram rapidamente. Após terminar o colégio, ele passou quatro anos na Marinha dos Estados Unidos.
Em 1974, mudou para San Francisco e começou a trabalhar como vendedor de equipamentos médicos.
Sua vida mudou completamente quando ele viu um homem numa Ferrari vermelha procurando vaga num estacionamento no centro da cidade.
Impressionado com o carro, ofereceu a sua vaga. "Falei para ele, você pode estacionar no meu lugar, mas me responda: O que você faz? E como faz?"
O dono da Ferrari disse que era corretor da Bolsa de Valores, vendia ações e faturava US$ 80 mil por mês (atualmente o equivalente a R$ 278 mil).
"Naquele momento tomei duas decisões: entrar no negócio de ações e futuramente comprar uma Ferrari", conta Gardner.
O dono da Ferrari se chamava Bob Bridges –e foi ele quem conseguiu que Gardner fosse entrevistado para a vaga de estágio na DWR. Mas não foi tão fácil.
Com US$ 1.200 (equivalentes a R$ 4.170 hoje) em multas de trânsito sem pagamento, Gardner foi parar na cadeia às vésperas da entrevista.
Ele conseguiu sair da prisão e foi direto para lá, usando as mesmas roupas com as quais tinha ficado na cadeia. Apesar da aparência desleixada, seu entusiasmo e foco impressionaram: ele conquistou a vaga.
Chris Gardner
Gardner construiu uma nova carreira como palestrante

Mais uma mudança de vida

Em 2012, seis anos depois do lançamento do filme, a vida de Gardner mudou novamente com a morte da sua mulher, aos 55 anos, vítima de um câncer.
A perda o fez reavaliar a vida e, depois de três décadas de muito sucesso no mercado financeiro, ele resolveu mudar completamente de carreira.
"Nas últimas conversas que tivemos, minha mulher me disse: 'Agora que vimos como a vida pode ser curta, o que você vai fazer no resto da sua'?"
"Quando se tem uma conversa dessas, tudo muda. Costumo dizer que, se você não está fazendo algo pelo qual é apaixonado, você está comprometendo cada dia da sua vida."
Ao perceber que não queria mais trabalhar na área de investimentos, Gardner se reinventou como autor de livros e especialista em palestras de motivação.
Hoje ele passa 200 dias por ano viajando pelo mundo e falando para auditórios lotados em mais de 50 países. Além disso, patrocina várias organizações que ajudam os sem-teto e combatem a violência contra as mulheres.
Scott Burns, diretor da corretora americana Morningstar, afirma que Gardner "é uma incrível demonstração de fortaleza". 
Gardner afirma desmentir a teoria de que todos somos produto do ambiente em que vivemos na infância. "De acordo com esse pensamento, eu devia ter sido mais um perdedor, alcoólatra, analfabeto, espancador de mulher e abusador de crianças."
Ele diz que fez suas escolhas positivas graças ao amor da mãe e ao apoio que recebeu de outras pessoas. "Eu escolhi seguir a luz da minha mãe e de outras pessoas com as quais não compartilho uma só gota de sangue."

Demônios

"Os únicos demônios neste mundo são os que perambulam em nossos corações, e é aí que as nossas batalhas devem ser travadas." Maha...