O poder mundial e nós
Data:
01/10/2015
Autor: Adriano Benayon
Defino
o capitalismo como um sistema econômico e político, no qual capitais privados
vão sendo cada vez mais concentrados nas mãos de poucos oligarcas
dominantes. Isso lhes permite conquistar
não só as grandes empresas financeiras e produtivas, mas também o Estado.
2.
Isso acontece sob-regimes abertamente fascistas e também sob-regimes aparentemente democráticos, em que o dinheiro e a mídia, a
serviço dos oligarcas, controlam o sistema político e o resultado das eleições.
3.
O capitalismo nos países centrais, mercê notadamente de guerras que envolveram
os aspirantes à hegemonia, tornou-se, ao longo dos últimos 350 anos, um sistema
de poder mundial, sob a hegemonia do capitalismo britânico, que depois
consolidou sua associação com o norte-americano, formando o império
angloamericano.
4.
Atualmente, restam duas potências não subordinadas ao império, China e Rússia,
capazes de propiciar equilíbrio na balança do poder mundial. Sem esse
equilíbrio, não há como país algum, no mundo, desenvolver-se.
5.
Veja-se a anomia prevalente no cenário mundial, do início dos anos 1990 até há
pouco, período em que o império angloamericano cometeu colossais genocídios: na Iugoslávia, seguindo-se Iraque, Afeganistão, novamente
Iraque, Líbia, para citar só alguns. Agora, em pauta, a Síria.
6.
O auge da tirania imperial corresponde no Brasil aos governos Collor e FHC. Na
Argentina, ao de Menem, e mais exemplos vergonhosos mundo afora.
7.
O enfraquecimento e dissolução da União Soviética haviam deixado o planeta à
mercê do império, secundado por seus satélites.
8.
Mas a China vem ganhando poder em todos
os campos, e a Rússia reafirma-se como potência nuclear e balística de grande
porte.
9.
Isso lhes dá autonomia nas decisões políticas e econômicas, e limita um pouco a
tirania exercida pelo império angloamericano em âmbito global.
10.
Se se tivessem mantido abertos à influência do
império, não teriam alcançado o status de potências mundiais. Para
tanto, precisaram de regime centralizado e fechado.
11.
As histórias da Coreia do Sul e de Taiwan ilustram a mesma constatação: para se
desenvolverem, tiveram governos militares
nacionalistas, devido a circunstâncias especiais: a presença do comunismo na China e na Coreia
do Norte, com apoio do Exército Vermelho da China de Mao Dze Dong. Este havia
empurrado os partidários de Chiang Kai Chek para Taiwan (Formosa), onde se
instalaram sob a proteção da esquadra norte-americana.
12.
Em suma, os EUA precisavam deixar fortalecer-se aqueles dois países,
empobrecidos pela exploração colonial e pela ocupação japonesa, além de
devastados por guerras, antes e durante a 2ª Guerra Mundial. Do contrário, seus
povos seriam reunidos a seus compatriotas sob governos comunistas.
13.
Em nossa história, como na da Argentina,
houve progressos para o desenvolvimento, exatamente sob regimes
autoritários, no período entre-guerras da 1ª metade do Século XX e durante a 2ª
Guerra Mundial.
14.
O senador Severo Gomes, desaparecido no mar, em 1992, comentava que a arrancada
para o desenvolvimento da Argentina e do Brasil fora possível graças ao
relativo isolamento comercial propiciado pela 1ª Guerra Mundial (1914-1918) e
pela depressão dos anos 1930, seguida da 2ª Guerra Mundial (1939-1945).
15.
A melhora das estruturas econômica e social só se pode realizar sob condições
de poder central forte, como, no Brasil, as dos anos subsequentes à Revolução
de 1930 e no Estado Novo (1937-1945), mercê da consciência nacionalista do
Exército e da visão esclarecida e
habilidade do presidente Vargas.
16.
Como tenho exposto, Vargas foi injusta e incessantemente acoimado de ditador
por agentes do império, horrorizado com a perspectiva de o País atingir o
desenvolvimento econômico e social.
17.
Por isso não cessavam de injuriar o presidente os adeptos do império
angloamericano, fosse fascinados pela democracia de molde ocidental, fosse a soldo daquele império.
18.
Tive, com frequência, ocasião de trocar ideias com Severo Gomes, empresário
e antigo ministro da Indústria e
Comércio (MIC) no governo do general Geisel.
Também, com outros grandes brasileiros: o general Andrada Serpa, o
físico Bautista Vidal (secretário de Tecnologia Industrial do MIC com Severo
Gomes e criador do Programa do Álcool, Energia da Biomassa), e o Dr. Enéas
Carneiro.
19.
Todos tinham consciência plena de que o desenvolvimento só é possível com
autonomia nacional e que um dos requisitos para esta existir é a autonomia industrial e tecnológica,
inclusive com domínio da energia nuclear
aplicada à defesa.
20.
O que precede significa que, para o Brasil, é vital ter estratégia que:
1)
contemple estarem as potências hegemônicas intervindo permanentemente em nosso
País;
2)
acompanhe a balança do poder em âmbito global, avaliando a medida em que o império se veja obrigado a
concentrar recursos e atenção em outras regiões.
21.
Dado o nosso recuo econômico, financeiro e tecnológico – crescente nos últimos decênios - a chance de êxito que
possa ter o projeto de sobrevivência do País depende de unir o máximo possível
das forças nacionais.
22.
Estas têm sido agudamente divididas em direita e esquerda, ao longo dos últimos
85 anos. O marco foi a Revolução de 1930, a qual abriu a perspectiva de desenvolvimento do País.
23.
Em seguida, o império angloamericano
fomentou novos separatismos e passou a investir mais intensamente em cooptar e
corromper locais, notadamente na mídia, como Assis Chateaubriand Bandeira de
Mello, dono dos Diários Associados, a maior cadeia jornalística da época.
24.
Já no mandato de Vargas assumido em
1951, indagado Chatô, por que
atacava o presidente e abria total espaço na TV a Carlos Lacerda, seu virulento
e audacioso adversário, respondeu: “se ele desistisse de criar a Petrobrás, eu
passaria apoiá-lo e lhe daria espaço em minha rede de comunicação”.
25.
Outro, foi o notório Roberto Marinho, dono de O Globo desde 1931. Esse, desde 1964, recebeu favores
oficiais e fartos recursos norte-americanos para tornar-se dominante na
comunicação social.
26.
Mais tarde, o império declarou, através de Henry Kissinger, que não podia
tolerar o surgimento de uma potência no Hemisfério Sul. Assim, foram cavados
profundos fossos ideológicos entre brasileiros e n outros modos de intervenção.
27.
Em 1932, Londres fomentou a falsamente
denominada Revolução Constitucionalista,
em São Paulo, que se poderia ter transformado em guerra separatista do
Estado onde a industrialização
despontava promissora.
28.
A constitucionalização real veio em 1934, preparada por Vargas desde antes
daquela teleguiada “revolução”. A
insurreição comunista, em 1935, tempo de
grande polarização esquerda/direita, reflexo do cenário europeu antecedente à
2ª Guerra Mundial.
29.
Era muito pequeno o número de operários organizados, e a geopolítica dava
chances nulas de êxito aos comunistas brasileiros: poder naval do império britânico absoluto
no Atlântico Sul, e proximidade dos EUA.
30.
Sendo incipiente o desenvolvimento do poder militar da União Soviética (URSS), não havia como esta apoiar
o levante comunista no Brasil. Ademais, Stalin dava prioridade à
infra-estrutura industrial da URSS. Não apostava na revolução internacional, ao
contrário de Trotsky, alijado do poder.
31.
Entre os comandados de Prestes, infiltraram-se agentes do Intelligence Service,
o M16 britânico, e os planos dos ataques eram previamente conhecidos das forças
legalistas.
32.
O resultado da insurreição de 1935 foi exacerbar a polarização ideológica, de
interesse exclusivo do império anglo-americano.
33.
Pior, sua memória tem servido à irracionalidade que faz reprimir,
atribuindo-se-lhes ser comunistas, os que se opõem ao império angloamericano ou
não fecham os olhos aos crimes deste.
34.
Seguiu-se o golpe de 1937, que instituiu o Estado Novo, repressor de comunistas
e outros. A geopolítica e a influência da finança angloamericana determinaram a
participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial: bases no Nordeste para as FFAA dos
EUA e envio da Força Expedicionária à Itália, vinculada a comando
norte-americano.
35.
Entretanto, o império não hesitou em patrocinar o golpe de 1945 e as intervenções subsequentes, que
prosseguem até hoje, e vêm logrando seus objetivos desde agosto de
1954:
a)
desnacionalizar e a desindustrializar o Brasil, impedindo o desenvolvimento de
tecnologias controladas por empresas nacionais, tanto privadas como estatais;
b) enfraquecer as Forças Armadas e a capacidade
estratégica do País, indústrias básicas, infra-estrutura e o domínio da energia nuclear;
c)
desinformar e abaixar o nível de educação dos brasileiros, investindo na
anticultura e na demolição dos valores éticos indispensáveis à evolução de
nação próspera e equilibrada;
36.
Esse processo tem sido realizado não só durante governos claramente
subordinados aos interesses financeiros angloamericanos (Café Filho, JK,
Castello Branco, Collor e FHC).
37.
Também, durante os demais, que, no essencial, cederam às pressões imperiais,
não obstante terem tido, setorialmente,
patriotas voltados para o desenvolvimento nacional.
38.
Destaque-se, ademais, que eleições dependentes de dinheiro grosso e grande
mídia levaram a desastres de origem parlamentar, inclusive a presente
Constituição e emendas.
* - Adriano Benayon é doutor em economia pela
Universidade de Hamburgo e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
Meus comentários:
Meus comentários:
- Informação será sempre a chave pra a solução dos nossos problemas, não haja com impulso, eu também já pensei assim. Por nós não nos acharmos capazes de algo, não significa que seja assim para todos, pois as revoluções são iniciadas por um pequeno grupo que acha possível, não foram todas assim?
- O mais importante: não perca a FÉ!Abraço!
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