Quanto à evolução
espiritual do Homem, continuando, A Gênese relata ainda no mesmo
capítulo:
23. Tomando-se a Humanidade no grau mais
ínfimo da escala espiritual, como se encontra entre os mais atrasados
selvagens, perguntar-se-á se é aí o ponto inicial da alma humana.
Na opinião de alguns
filósofos espiritualistas, o princípio inteligente, distinto do princípio
material, se individualiza e elabora, passando pelos diversos graus da
animalidade. É aí que a alma se ensaia para a vida e desenvolve, pelo
exercício, suas primeiras faculdades. Esse seria para ela, por assim dizer, o
período de incubação. Chegada ao grau de desenvolvimento que esse estado
comporta, ela recebe as faculdades especiais que constituem a alma humana.
Haveria assim filiação
espiritual do animal para o homem, como há filiação corporal. Este sistema,
fundado na grande lei de unidade que preside à criação, corresponde, forçoso é
convir, à justiça e à bondade do Criador; dá uma saída, uma finalidade, um
destino aos animais, que deixam então de formar uma categoria de seres
deserdados, para terem, no futuro que lhes está reservado, uma compensação a
seus sofrimentos. O que constitui o homem espiritual não é a sua origem: são os
atributos especiais de que ele se apresenta dotado ao entrar na humanidade,
atributos que o transformam, tornando-o um ser distinto, como o fruto saboroso
é distinto da raiz amarga que lhe deu origem. Por haver passado pela fieira da
animalidade, o homem não deixaria de ser homem; já não seria animal, como o
fruto não é a raiz, como o sábio não é o feto informe que o pôs no mundo. Mas,
este sistema levanta múltiplas questões, cujos prós e contras não é oportuno
discutir aqui, como não o é o exame das diferentes hipóteses que se têm
formulado sobre este assunto. Sem, pois, pesquisarmos a origem do Espírito, sem
procurarmos conhecer as fieiras pelas quais haja ele, porventura, passado,
tomamo-lo ao entrar na humanidade, no ponto em que, dotado de senso moral
e de livre--arbítrio, começa a pesar-lhe a
responsabilidade dos seus atos.(grifos no original)
Neste
trecho Kardec verifica a favorabilidade desta idéia em conformação com os
atributos da Divindade. Apesar disto, mantém-se ainda em reserva, devido à
existência de outras idéias e hipóteses, dos estudiosos espiritualistas da
época. Anos mais tarde, Gabriel Delanne, que nasceu no ano de lançamento de O
Livro dos Espíritos, publica Evolução Anímica, onde ele admite a
transmigração do princípio espiritual evoluindo desde a sua condição mais
simples até a condição de Espírito, utilizando-se para isto dos corpos
orgânicos constantes dos diversos reinos da Natureza. Acreditamos que, por esta
época, as idéias a respeito da evolução das espécies já se encontravam bem mais
desenvolvidas e aceitas pela sociedade e pela comunidade científica, o que fez
com que Delanne não exitasse em afirmar aquilo que para o seu mestre Allan
Kardec era uma hipótese favorável.
Supondo que a alma se
tenha individualizado lentamente por um processo de elaboração das formas
inferiores da natureza, a fim de atingir gradativamente a humanidade, quem se
não sentirá maravilhado de tão grandiosa ascensão?
Através de mil modelos
inferiores, nos labirintos de uma escalada ininterrupta; através das mais
bizarras formas; sob a pressão dos instintos e a sevícia de forças
inverossímeis, a cega psique vai tendendo para a luz, para a consciência esclarecida,
para a liberdade. . ,
Esses inúmeros avatares,
em milhares de organismos diferentes, devem dotar a alma de todas as forças que
lhe hajam de servir mais tarde. Eles têm por objeto desenvolver o envoltório
fluídico, dar-lhe a necessária plasticidade, fixando nele as leis cada vez mais
complexas que regem as formas vivas, criando-lhes, assim, um tesouro, mediante
o qual possam, um dia, manipular a matéria, de modo inconsciente, para que o
Espírito possa operar sem o entrave dos liames terrestres.
Quem recusará ver nos
milhões de existências a palpitarem no Planeta a elaboração sublime da
inteligência, prosseguindo incessante na extensão indefinita do tempo e do
espaço?
São
as eternas leis da evolução que arrastam o princípio inteligente a destinos cada
vez mais altanados, para um futuro sempre melhor, desdobrando-se em panorama de
renovadas perspectivas, a partir da idade primária aos nossos dias.11
E o capítulo prossegue, enaltecendo com uma beleza
toda poética a grandiosidade do Ser Divino com as suas leis perfeitas. Quem
desejar conhecer o desdobrar deste capítulo vale a pena buscar esta obra que é
de grande profundidade.
No capítulo IV de Evolução em Dois Mundos o
Espírito André Luiz também confirma a tese que ora analisamos.
GÊNESE DOS ÓRGÃOS PSICOSSOMÁTICOS – Todos os órgãos do corpo
espiritual e, consequentemente, do corpo físico foram, portanto, construídos
com lentidão, atendendo-se à necessidade do campo mental em seu condicionamento
e exteriorização no meio terrestre.
E assim que o tato nasceu
no princípio inteligente, na sua passagem pelas células nucleares em seus
impulsos amebóides; que a visão principiou pela sensibilidade do plasma nos
flagelados monocelulares expostos ao clarão solar, que o olfato começou nos
animais aquáticos de expressão mais simples, por excitações do ambiente em que
evolviam; que o gosto surgiu nas plantas, muitas delas armadas de pêlos
viscosos destilando sucos digestivos, e que as primeiras sensações do sexo
apareceram com algas marinhas providas não só de células masculinas e femininas
que nadam, atraídas uma para as outras, mas também de um esboço de epiderme
sensível, que podemos definir como região secundária de simpatias genésicas.
TRABALHO DA INTELIGÊNCIA – Examinando, pois, o
fenômeno da reflexão sistemática, gerando o automatismo que assinala a
inteligência de todas as ações espontâneas do corpo espiritual, reconhecemos
sem dificuldade que a marcha do princípio inteligente para o reino humano e que
a viagem da consciência humana para o reino angélico simbolizam a expansão
multimilenar da criatura de Deus que, por força da Lei Divina, deve merecer,
com o trabalho de si mesma, a auréola da imortalidade em pleno Céu.
No trecho exposto, O Espírito-autor não somente
explana a respeito da evolução espiritual dos seres pelos diversos segmentos da
Natureza, como também vislumbra o futuro do ser humano em direção à condição
espiritual superior como seres angélicos, portadores inequívocos dos
sentimentos de fraternidade, caridade e humildade. Com certeza, chegando a esta
etapa da evolução, não contaremos com um corpo físico igual ao que possuímos
hoje. Teremos uma organização física muito mais aperfeiçoada e menos grosseira,
capaz de manifestar todas as faculdades do Espírito.
Lembramos de um trecho de O Evangelho
Segundo o Espiritismo, também de Kardec, onde, no capítulo III, os
Espíritos Superiores relatam as condições de vida nos mundos superiores: “O corpo nada tem da materialidade
terrestre e não está, conseguintemente, sujeito às necessidades, nem às doenças
ou deteriorações que a predominância da matéria provoca. Mais apurados, os
sentidos são aptos a percepções a que neste mundo a grosseria da matéria obsta.
A leveza específica do corpo permite locomoção rápida e fácil: em vez de se
arrastar penosamente pelo solo, desliza, a bem dizer, pela superfície, ou plana
na atmosfera, sem qualquer outro esforço além do da vontade, conforme se
representam os anjos, ou como os antigos imaginavam os manes nos Campos
Elíseos”.
Fácil imaginar que, para isto, precisaremos de
cérebro mais desenvolvido, sistema nervoso mais delicado, órgãos e sistemas
adaptados, etc., por que senão, seria o Espírito como que músico excelente
tendo que expressar a sua arte através de um instrumento de qualidade ruim.
Depois deste parêntese, citamos Jorge Andréa,
médico psiquiatra e escritor espírita atual, estudioso dos assuntos científicos
relacionados à Doutrina Espírita. Ele é também do mesmo parecer, o que pode ser
verificado nos trechos que se seguem, do livro Impulsos Criativos da
Evolução, mostrando que o princípio espiritual evolui não apenas a partir
do vegetal mas desde as formas minerais onde ele rege os princípios de atração
e repulsão das particulas.
“O mineral possui tanto vida quanto o
vegetal e o animal. O Princípio Unificador, a essência que preside as formas e
o metabolismo da flora e da fauna, existe também no reino mineral, presidindo
as forças de atração e repulsão em que átomos e moléculas se unificam e
equilibram.12
Mais
adiante, no capítulo 2, ele continua.
Como fase inicial, o Princípio Inteligente
estaria, como sempre, em sua específica e superior dimensão, a influenciar as
organizações atômico-moleculares do reino mineral. Seria como um eixo
energético “intrometido” no âmago dos átomos e moléculas, convidando-os à
união. O eixo energético, como Princípio Inteligente, com suas vibrações,
criaria o campo de agregação refletido nas forças de atração e coesão, a
determinar a concentração das energias e respectiva condensação nos átomos e
arrumações moleculares. Do simples fenômeno químico até as manifestações
humanas, existe o Princípio-Unificador ou Espiritual regendo e orientando;
claro que sob apresentações variáveis, abastecendo-se e ampliando-se a medida
que a escala evolutiva avança.
Na página 120,
o autor é ainda mais direto.
O Principio
inteligente vegetal, mais vivido e experiente de sua fase, despontará
nas formas animais, buscando novas afirmações nos
instintos.
Lembremos que a
natureza não dá saltos. Se pegarmos o elemento (e aqui incluímos o mineral)
mais evoluído de um reino e o organismo menos evoluído do reino seguinte,
veremos que quase não há diferenças. Há uma transição perfeita sendo que a isto
já nos referimos na primeira parte deste pequeno e despretensioso trabalho. É
interessante a leitura completa desta obra de Jorge Andréa por nos trazer uma
análise profunda e coerente a respeito da evolução do princípio inteligente
concomitante com a evolução dos seres materiais.
Outra leitura
sugerimos: Reencarnação e Evolução das Espécies, do Dr. Ricardo di
Bernardi, também espírita.
Muitas outras
obras poderiam ser citadas. Porém, acreditamos serem suficientes os argumentos
aqui apresentados, deixando para o leitor a complementação deste estudo através
da leitura das mesmas.
Resta-nos
apenas um ponto a analisar por ser controverso. Trata-se da questão 591 de O
Livro dos Espíritos:
591. Nos
mundos superiores, as plantas são de natureza mais perfeita, como os outros
seres?
“Tudo é mais perfeito. As plantas, porém, são
sempre plantas, como os animais sempre animais e os homens sempre homens.”
Dá-se a
entender que não há a transmigração progressiva do princípio inteligente pelos
diversos reinos da Natureza, sendo a evolução espiritual restrita a cada reino.
Iremos, porém,
nos valer da explicação dada a respeito pelo grande pensador e estudioso
espírita Herculano Pires.
Algumas pessoas fazem desta resposta uma
negação da continuidade evolutiva das coisas e dos seres. O leitor deve
considerar que a resposta se refere à condição dos mundos superiores, onde há
plantas, animais e homens, como nos inferiores, mas em escala avançada. A
palavra “sempre” não é empregada aí no sentido da eternidade, mas tão somente
para mostrar que os três reinos existem “sempre”, em todos os mundos referidos.
Aliás, uma frase não poderia contradizer
todo o livro. E orienta ele a vermos os itens 604, 607 e 607-a de O Livro dos
Espíritos.13
Estando os
seres terrenos em contínua evolução, e baseando-se no ensino dos Espíritos da
Codificação kardequiana, sabe-se que nossas plantas, animais e homens serão
mais evoluídos no futuro. Tendo atingido uma mais elevada condição evolutiva e,
tomando como exemplo os animais da espécie mais evoluída aqui na terra (os
macacos), quando isto acontecer, estes poderão ter a configuração física dos
homens primitivos. Não importa se os chamem de animais (não mais serão animais
irracionais), poderão ser semelhantes aos homens primitivos com cérebro mais
avantajado, capacidade de raciocínio, consciência de si mesmo, etc.
Difícil
entender a infinita sabedoria e misericórdia do Criador, se não enxergarmos o princípio inteligente
rudimentar, partícula destacada do princípio inteligente universal (Deus),
desfilando nos diversos reinos da Natureza, numa escala ascendente dos seres,
do mais ínfimo até a forma mais elevada, caminhando em busca da luz da razão e
depois, de degrau em degrau, rumando para a angelitude, num futuro glorioso que
Deus reservou para todos os seus filhos, independente do estágio em que se
encontrem no momento, mas que todos chegarão à perfeição. Um estudo como este,
apesar do seu pequenino valor, nos mostra a grandiosidade do Pai Criador do
Universo ao ressaltar a a sabedoria das suas leis, a justiça e a equanimidade
com que trata todas as suas criaturas, sendo todas, para Ele, iguais, não
importando o quanto já viveram e desenvolveram seus potenciais latentes de
criatura e filho de Deus.
7 – O Perispírito e suas
Modelações – Luiz Gonzaga Pinheiro
8 – O Livro dos Espíritos, questão
540 - Allan kardec
9 - A Gênese, capítulo XI – Allan Kardec
10 – O
Livro dos Espíritos, pergunta 115 – Allan Kardec
11 – Evolução Anímica, capítulo II
– Gabriel Delanne
12 – Extraído de texto constante no
site www.nossolar.org.br/n_tema18.php
13 – Nota do Tradutor, em O Livro
dos Espíritos, 7.ª edição, FEESP.
Nenhum comentário:
Postar um comentário