EVOLUÇÃO DO SER - Parte 3

Quanto à evolução espiritual do Homem, continuando, A Gênese relata ainda no mesmo capítulo:
23. Tomando-se a Humanidade no grau mais ínfimo da escala espiritual, como se encontra entre os mais atrasados selvagens, perguntar-se-á se é aí o ponto inicial da alma humana.
Na opinião de alguns filósofos espiritualistas, o princípio inteligente, distinto do princípio material, se individualiza e elabora, passando pelos diversos graus da animalidade. É aí que a alma se ensaia para a vida e desenvolve, pelo exercício, suas primeiras faculdades. Esse seria para ela, por assim dizer, o período de incubação. Chegada ao grau de desenvolvimento que esse estado comporta, ela recebe as faculdades especiais que constituem a alma humana.
Haveria assim filiação espiritual do animal para o homem, como há filiação corporal. Este sistema, fundado na grande lei de unidade que preside à criação, corresponde, forçoso é convir, à justiça e à bondade do Criador; dá uma saída, uma finalidade, um destino aos animais, que deixam então de formar uma categoria de seres deserdados, para terem, no futuro que lhes está reservado, uma compensação a seus sofrimentos. O que constitui o homem espiritual não é a sua origem: são os atributos especiais de que ele se apresenta dotado ao entrar na humanidade, atributos que o transformam, tornando-o um ser distinto, como o fruto saboroso é distinto da raiz amarga que lhe deu origem. Por haver passado pela fieira da animalidade, o homem não deixaria de ser homem; já não seria animal, como o fruto não é a raiz, como o sábio não é o feto informe que o pôs no mundo. Mas, este sistema levanta múltiplas questões, cujos prós e contras não é oportuno discutir aqui, como não o é o exame das diferentes hipóteses que se têm formulado sobre este assunto. Sem, pois, pesquisarmos a origem do Espírito, sem procurarmos conhecer as fieiras pelas quais haja ele, porventura, passado, tomamo-lo ao entrar na humanidade, no ponto em que, dotado de senso moral e de livre--arbítrio, começa a pesar-lhe a  responsabilidade dos seus atos.(grifos no original)
Neste trecho Kardec verifica a favorabilidade desta idéia em conformação com os atributos da Divindade. Apesar disto, mantém-se ainda em reserva, devido à existência de outras idéias e hipóteses, dos estudiosos espiritualistas da época. Anos mais tarde, Gabriel Delanne, que nasceu no ano de lançamento de O Livro dos Espíritos, publica Evolução Anímica, onde ele admite a transmigração do princípio espiritual evoluindo desde a sua condição mais simples até a condição de Espírito, utilizando-se para isto dos corpos orgânicos constantes dos diversos reinos da Natureza. Acreditamos que, por esta época, as idéias a respeito da evolução das espécies já se encontravam bem mais desenvolvidas e aceitas pela sociedade e pela comunidade científica, o que fez com que Delanne não exitasse em afirmar aquilo que para o seu mestre Allan Kardec era uma hipótese favorável.
Supondo que a alma se tenha individualizado lentamente por um processo de elaboração das formas inferiores da natureza, a fim de atingir gradativamente a humanidade, quem se não sentirá maravilhado de tão grandiosa ascensão?
Através de mil modelos inferiores, nos labirintos de uma escalada ininterrupta; através das mais bizarras formas; sob a pressão dos instintos e a sevícia de forças inverossímeis, a cega psique vai tendendo para a luz, para a consciência esclarecida, para a liberdade. . ,
Esses inúmeros avatares, em milhares de organismos diferentes, devem dotar a alma de todas as forças que lhe hajam de servir mais tarde. Eles têm por objeto desenvolver o envoltório fluídico, dar-lhe a necessária plasticidade, fixando nele as leis cada vez mais complexas que regem as formas vivas, criando-lhes, assim, um tesouro, mediante o qual possam, um dia, manipular a matéria, de modo inconsciente, para que o Espírito possa operar sem o entrave dos liames terrestres.
Quem recusará ver nos milhões de existências a palpitarem no Planeta a elaboração sublime da inteligência, prosseguindo incessante na extensão indefinita do tempo e do espaço?
São as eternas leis da evolução que arrastam o princípio inteligente a destinos cada vez mais altanados, para um futuro sempre melhor, desdobrando-se em panorama de renovadas perspectivas, a partir da idade primária aos nossos dias.11
E o capítulo prossegue, enaltecendo com uma beleza toda poética a grandiosidade do Ser Divino com as suas leis perfeitas. Quem desejar conhecer o desdobrar deste capítulo vale a pena buscar esta obra que é de grande profundidade.
No capítulo IV de Evolução em Dois Mundos o Espírito André Luiz também confirma a tese que ora analisamos.
GÊNESE DOS ÓRGÃOS PSICOSSOMÁTICOS – Todos os órgãos do corpo espiritual e, consequentemente, do corpo físico foram, portanto, construídos com lentidão, atendendo-se à necessidade do campo mental em seu condicionamento e exteriorização no meio terrestre.
E assim que o tato nasceu no princípio inteligente, na sua passagem pelas células nucleares em seus impulsos amebóides; que a visão principiou pela sensibilidade do plasma nos flagelados monocelulares expostos ao clarão solar, que o olfato começou nos animais aquáticos de expressão mais simples, por excitações do ambiente em que evolviam; que o gosto surgiu nas plantas, muitas delas armadas de pêlos viscosos destilando sucos digestivos, e que as primeiras sensações do sexo apareceram com algas marinhas providas não só de células masculinas e femininas que nadam, atraídas uma para as outras, mas também de um esboço de epiderme sensível, que podemos definir como região secundária de simpatias genésicas.
TRABALHO DA INTELIGÊNCIA – Examinando, pois, o fenômeno da reflexão sistemática, gerando o automatismo que assinala a inteligência de todas as ações espontâneas do corpo espiritual, reconhecemos sem dificuldade que a marcha do princípio inteligente para o reino humano e que a viagem da consciência humana para o reino angélico simbolizam a expansão multimilenar da criatura de Deus que, por força da Lei Divina, deve merecer, com o trabalho de si mesma, a auréola da imortalidade em pleno Céu.
No trecho exposto, O Espírito-autor não somente explana a respeito da evolução espiritual dos seres pelos diversos segmentos da Natureza, como também vislumbra o futuro do ser humano em direção à condição espiritual superior como seres angélicos, portadores inequívocos dos sentimentos de fraternidade, caridade e humildade. Com certeza, chegando a esta etapa da evolução, não contaremos com um corpo físico igual ao que possuímos hoje. Teremos uma organização física muito mais aperfeiçoada e menos grosseira, capaz de manifestar todas as faculdades do Espírito.
Lembramos de um trecho de O Evangelho Segundo o Espiritismo, também de Kardec, onde, no capítulo III, os Espíritos Superiores relatam as condições de vida nos mundos superiores: “O corpo nada tem da materialidade terrestre e não está, conseguintemente, sujeito às necessidades, nem às doenças ou deteriorações que a predominância da matéria provoca. Mais apurados, os sentidos são aptos a percepções a que neste mundo a grosseria da matéria obsta. A leveza específica do corpo permite locomoção rápida e fácil: em vez de se arrastar penosamente pelo solo, desliza, a bem dizer, pela superfície, ou plana na atmosfera, sem qualquer outro esforço além do da vontade, conforme se representam os anjos, ou como os antigos imaginavam os manes nos Campos Elíseos”.
Fácil imaginar que, para isto, precisaremos de cérebro mais desenvolvido, sistema nervoso mais delicado, órgãos e sistemas adaptados, etc., por que senão, seria o Espírito como que músico excelente tendo que expressar a sua arte através de um instrumento de qualidade ruim.
Depois deste parêntese, citamos Jorge Andréa, médico psiquiatra e escritor espírita atual, estudioso dos assuntos científicos relacionados à Doutrina Espírita. Ele é também do mesmo parecer, o que pode ser verificado nos trechos que se seguem, do livro Impulsos Criativos da Evolução, mostrando que o princípio espiritual evolui não apenas a partir do vegetal mas desde as formas minerais onde ele rege os princípios de atração e repulsão das particulas.
“O mineral possui tanto vida quanto o vegetal e o animal. O Princípio Unificador, a essência que preside as formas e o metabolismo da flora e da fauna, existe também no reino mineral, presidindo as forças de atração e repulsão em que átomos e moléculas se unificam e equilibram.12
Mais adiante, no capítulo 2, ele continua.
Como fase inicial, o Princípio Inteligente estaria, como sempre, em sua específica e superior dimensão, a influenciar as organizações atômico-moleculares do reino mineral. Seria como um eixo energético “intrometido” no âmago dos átomos e moléculas, convidando-os à união. O eixo energético, como Princípio Inteligente, com suas vibrações, criaria o campo de agregação refletido nas forças de atração e coesão, a determinar a concentração das energias e respectiva condensação nos átomos e arrumações moleculares. Do simples fenômeno químico até as manifestações humanas, existe o Princípio-Unificador ou Espiritual regendo e orientando; claro que sob apresentações variáveis, abastecendo-se e ampliando-se a medida que a escala evolutiva avança.
Na página 120, o autor é ainda mais direto.
O Principio inteligente vegetal, mais vivido e experiente de sua fase, despontará
nas formas animais, buscando novas afirmações nos instintos.
Lembremos que a natureza não dá saltos. Se pegarmos o elemento (e aqui incluímos o mineral) mais evoluído de um reino e o organismo menos evoluído do reino seguinte, veremos que quase não há diferenças. Há uma transição perfeita sendo que a isto já nos referimos na primeira parte deste pequeno e despretensioso trabalho. É interessante a leitura completa desta obra de Jorge Andréa por nos trazer uma análise profunda e coerente a respeito da evolução do princípio inteligente concomitante com a evolução dos seres materiais.
Outra leitura sugerimos: Reencarnação e Evolução das Espécies, do Dr. Ricardo di Bernardi, também espírita.
Muitas outras obras poderiam ser citadas. Porém, acreditamos serem suficientes os argumentos aqui apresentados, deixando para o leitor a complementação deste estudo através da leitura das mesmas.
Resta-nos apenas um ponto a analisar por ser controverso. Trata-se da questão 591 de O Livro dos Espíritos:
591. Nos mundos superiores, as plantas são de natureza mais perfeita, como os outros seres?
“Tudo é mais perfeito. As plantas, porém, são sempre plantas, como os animais sempre animais e os homens sempre homens.”
Dá-se a entender que não há a transmigração progressiva do princípio inteligente pelos diversos reinos da Natureza, sendo a evolução espiritual restrita a cada reino.
Iremos, porém, nos valer da explicação dada a respeito pelo grande pensador e estudioso espírita Herculano Pires.
Algumas pessoas fazem desta resposta uma negação da continuidade evolutiva das coisas e dos seres. O leitor deve considerar que a resposta se refere à condição dos mundos superiores, onde há plantas, animais e homens, como nos inferiores, mas em escala avançada. A palavra “sempre” não é empregada aí no sentido da eternidade, mas tão somente para mostrar que os três reinos existem “sempre”, em todos os mundos referidos.
Aliás, uma frase não poderia contradizer todo o livro. E orienta ele a vermos os itens 604, 607 e 607-a de O Livro dos Espíritos.13
Estando os seres terrenos em contínua evolução, e baseando-se no ensino dos Espíritos da Codificação kardequiana, sabe-se que nossas plantas, animais e homens serão mais evoluídos no futuro. Tendo atingido uma mais elevada condição evolutiva e, tomando como exemplo os animais da espécie mais evoluída aqui na terra (os macacos), quando isto acontecer, estes poderão ter a configuração física dos homens primitivos. Não importa se os chamem de animais (não mais serão animais irracionais), poderão ser semelhantes aos homens primitivos com cérebro mais avantajado, capacidade de raciocínio, consciência de si mesmo, etc.
Difícil entender a infinita sabedoria e misericórdia do Criador, se não  enxergarmos o princípio inteligente rudimentar, partícula destacada do princípio inteligente universal (Deus), desfilando nos diversos reinos da Natureza, numa escala ascendente dos seres, do mais ínfimo até a forma mais elevada, caminhando em busca da luz da razão e depois, de degrau em degrau, rumando para a angelitude, num futuro glorioso que Deus reservou para todos os seus filhos, independente do estágio em que se encontrem no momento, mas que todos chegarão à perfeição. Um estudo como este, apesar do seu pequenino valor, nos mostra a grandiosidade do Pai Criador do Universo ao ressaltar a a sabedoria das suas leis, a justiça e a equanimidade com que trata todas as suas criaturas, sendo todas, para Ele, iguais, não importando o quanto já viveram e desenvolveram seus potenciais latentes de criatura e filho de Deus.

7 – O Perispírito e suas Modelações – Luiz Gonzaga Pinheiro
8 – O Livro dos Espíritos, questão 540 - Allan kardec
9 -  A Gênese, capítulo XI – Allan Kardec
10 – O Livro dos Espíritos, pergunta 115 – Allan Kardec
11 – Evolução Anímica, capítulo II – Gabriel Delanne
12 – Extraído de texto constante no site www.nossolar.org.br/n_tema18.php

13 – Nota do Tradutor, em O Livro dos Espíritos, 7.ª edição, FEESP.


Nenhum comentário:

Demônios

"Os únicos demônios neste mundo são os que perambulam em nossos corações, e é aí que as nossas batalhas devem ser travadas." Maha...